O comércio de materiais de construção em Minas teve queda entre 12% e 15% nas vendas no primeiro semestre do ano na comparação com igual período de 2021, um desempenho muito aquém do registrado nos últimos dois anos, quando a pandemia aqueceu o mercado.
As expectativas para o segundo semestre são cautelosas. Mesmo as medidas governamentais de auxílio à economia não entusiasmam os empresários do setor, possivelmente como reflexo da inflação persistente, diz a edição de junho do Termômetro Anamaco, que mede a percepção dos varejistas sobre o momento econômico.
O início do ano, historicamente, não costuma ser bom para o setor de materiais de construção. Férias, Carnaval, despesas escolares e impostos mantêm as famílias longe dos balcões das lojas. O primeiro semestre de 2022 foi ainda pior, relata Wagner Mattos, vice-presidente do Sindicato do Comércio Varejista do Material de Construção (Sindimaco BH e região), que representa os comerciantes do setor.
“Começamos o ano com chuvas extremas e a iminência do agravamento da Covid. Ao mesmo tempo, desde o final do ano passado, enfrentamos o aumento da taxa básica de juros, aumento grande do dólar e dos preços das matérias-primas. São fatores que minam a economia como um todo e reduzem o ímpeto empreendedor das pessoas”, observa Mattos.
Ela ressalta que a queda das vendas se deu em um contexto muito específico. “Não dá para fazer a comparação de uma base elevada como a do ano passado com uma base sofrida, como a deste ano”, acrescenta. Os primeiros anos da pandemia foram atípicos para o setor de materiais de construção. Considerado atividade essencial, manteve as lojas abertas enquanto as pessoas passavam a trabalhar em casa e procuravam uma maneira de fazer isso com mais conforto e funcionalidade.
Turbinado pelo auxílio emergencial, o setor cresceu cerca de 40% nos primeiros três meses do ano passado. “70% do auxílio emergencial foi para a construção civil, na melhoria das moradias”, acredita o vice-presidente do Sindimaco MG.
Este ano, o contexto é bem diferente. Só para se ter uma ideia, o material de construção teve, segundo o dirigente, um aumento em média de 26% a 28%, enquanto as correções de salários têm sido feitas em cima de um índice, o IPCA, que regista metade disso, impactando diretamente o poder de compra das pessoas.
O resultado é que as vendas, segundo Mattos, vêm caindo de forma sistemática, principalmente nos últimos quatro meses. “Alguns produtos básicos como cimento, areia, conexões, se mantêm, já que se destinam a reparos que não podem ser deixados para depois.
Já outros vendem menos, como itens de acabamento, iluminação, material elétrico, cujo uso pode ser postergado”, explica.
Os produtos que mais aumentaram neste período foram tinta, porcelanato, metais, lâmpadas, condutores elétricos, ou seja, produtos importados e comprados em dólar.
Segundo Wagner Mattos, que é proprietário da Loja Elétrica, o mercado experimenta uma tendência de redução dos preços de alguns produtos, provocada pela demanda fraca. “O fabricante não consegue vender, o preço cai. O mercado está se acomodando e, apesar de não haver descompasso no fornecimento, não há ainda regularidade na entrega. Mas a falta de produto é pontual”, afirma.
Para o comerciante, o segundo semestre é quase uma incógnita, principalmente diante de uma temporada eleitoral turbulenta. “Espera-se que o PIB seja melhor do que foi previsto até agora, mas estou um pouco temeroso, a impressão é que os próximos seis meses não vão ser tão bons quanto poderiam ser”, conclui.
Segunda loja mais antiga de material de construção em Minas, logo atrás da Casa Falci, a Casa Issa, em Pedro Leopoldo, completou 112 anos de portas abertas. Seu proprietário, Ricardo Issa, diz que não tem faltado nenhum produto entre os 17 mil itens que vende. Realidade bem diferente do ano passado, quando “a gente comprava o que eles tinham para vender, não o que a gente precisava”, lembra.
Issa contabilizou uma queda de 15% a 20% nas vendas no primeiro semestre, o que atribui a um realinhamento às condições pré-pandemia. Mas o aumento de preços também contribui para esse quadro. “Tudo o que leva ferragem e cerâmica aumentou demais. As correções estavam sendo diárias. Eu não sei qual é a referência das fábricas, porque o dólar baixa e elas não baixam. Mas se subir de novo, elas vão aumentar o preço”, afirma o comerciante.
As avaliações e expectativas dos representantes nacionais do setor são bem mais otimistas. Para o presidente da Associação Nacional Comerciantes Material Construção (Anamaco), Geraldo Defalco, a demanda do setor no primeiro semestre continuou forte, seguindo a tendência dos anos anteriores. “Normalmente, no segundo semestre, a sazonalidade é ainda mais positiva e a gente espera crescer 1,5% no decorrer de 2022, apesar de todas as dificuldades”, afirma.
Segundo o dirigente, as vendas no primeiro semestre surpreenderam o segmento, principalmente na classe A e B de consumo. “Nosso segmento está muito capitalizado e continua forte em investimento. No restante, manteve a expectativa que o segmento já tinha de um crescimento linear e um pouco menor do que havia ocorrendo”.
Segundo as estimativas da Anamaco, o setor cresceu pouco mais de 10%, mesmo assim em função da inflação e do maior valor dos produtos, além do aumento da taxa de juros.
Para Defalco, o que impulsionou as vendas foi a continuidade do que já tinha começado. “O que vem impulsionando as vendas é o ritmo que a economia vem tomando, o IBGE divulgou que houve contratações, isso gera renda, que gera negócios, que gera emprego e essa roda continua crescendo”, sustenta.
Um contexto que, segundo Defalco, deve melhorar ainda mais no próximo semestre, com as medidas do governo de redução do ICMS e consequente baixa do combustível, com um possível aumento do PIB de 1,5% para 2%. Também concorre para o otimismo do dirigente a temporada eleitoral.
“A gente vê um gasto com propagandas políticas, a própria forma de se fazer uma eleição e tem mais gasto público, que é muito importante para a movimentação do negócio de construção. E temos visto um número considerável de obras pelo País todo”, finaliza.
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